Uso da tecnologia UAV-LiDAR para estimar estoques de carbono em projetos REDD+

O Acordo de Paris marcou um ponto de inflexão na ação climática internacional em 2015, quando os países signatários se comprometeram a reduzir as emissões de gases de efeito estufa e a se esforçar para limitar o aquecimento global a 1,5°C. A meta ambiciosa foi motivada por graves alertas de cientistas sobre as consequências catastróficas de ultrapassar esse limite. O movimento global para reduzir emissões de carbono e adotar práticas sustentáveis ganhou força e, em meio aos esforços das nações, surgiu um ator fundamental: a floresta tropical.

Estudos científicos recentes destacam a importância das florestas tropicais para mitigar os danos globais e as mudanças climáticas. De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), a proteção e a restauração das florestas tropicais podem contribuir significativamente para atingir a meta de 1,5°C. Estima-se que essas florestas tenham o potencial de absorver até 30% das emissões de CO2 do mundo anualmente. No entanto, florestas tropicais enfrentam graves ameaças como o desmatamento, a extração ilegal de madeira e a degradação de habitats. A perda de florestas não apenas reduz sua capacidade de atuar como sumidouros de carbono, mas também libera grandes quantidades de carbono armazenado de volta à atmosfera.

A comunidade internacional reconhece o papel vital das florestas tropicais na luta contra as mudanças climáticas, e promove várias iniciativas e programas para protegê-las. Um exemplo são os projetos REDD+: "REDD" significa "Redução de emissões por desmatamento e degradação florestal" em países em desenvolvimento. E o "+" significa atividades adicionais relacionadas às florestas que protegem o clima, ou seja, o manejo sustentável das florestas e a conservação e o aumento dos estoques de carbono florestal. Os países partes da Convenção do Clima que atendem a todos os requisitos estão qualificados a buscar e receber pagamentos baseados em resultados – incentivos econômicos por esforços verificados de redução do desmatamento e da degradação para conservar e gerenciar de forma sustentável suas florestas.

As atividades de REDD+ contemplam não apenas o desmatamento, mas também aspectos sociais e de políticas públicas e ambientais relevantes. Os projetos devem melhorar a qualidade de vida das comunidades e preservar a biodiversidade, proporcionando uma situação de ganho mútuo para a proteção climática e as comunidades locais. Por exemplo, os benefícios esperados são a melhoria de seus meios de vida e a geração de novas fontes de renda, melhor acesso à água potável e à energia renovável, entre outros.

São iniciativas muito promissoras para desafios complexos de expansão agrícola e de mudanças no uso da terra decorrentes de mudanças climáticas. Ao integrar estratégias de REDD+ com práticas agrícolas sustentáveis, podemos avançar rumo a metas mais resilientes e neutras em carbono. Embora os benefícios potenciais de projetos REDD+ para a solução de problemas agrícolas em face a mudanças climáticas sejam evidentes, seu sucesso depende da participação de múltiplos interessados. Governos, ONGs, comunidades locais e entidades privadas devem colaborar para criar e implementar iniciativas REDD+ inclusivas, transparentes e com responsabilização, que atendam às necessidades específicas de cada região.

Nesse sentido, em um movimento inovador pela transparência e precisão no mercado de créditos de carbono, a brCarbon – empresa líder na tecnologia climática – está alavancando o poder de tecnologias de ponta, especificamente seu sistema UAV-LiDAR, para revolucionar o modo de verificar e monitorar os créditos de carbono. Métodos convencionais de mensurar o carbono em campo são caros e têm cobertura espacial limitada, dificultando a abrangência e a precisão de avaliações em regiões de mata como o Cerrado brasileiro. O sensoriamento remoto pode superar essas limitações, expandindo as estimativas de estoque de carbono e aumentando a transparência nas estimativas de carbono em projetos florestais. Essa abordagem inovadora não apenas garante uma estimativa mais confiável das compensações de carbono, mas também elabora um amplo relatório de monitoramento para empoderar as partes interessadas e auxiliar os auditores em sua busca por informações confiáveis. A tecnologia capta informações detalhadas sobre a estrutura, a biomassa e a saúde das florestas, permitindo que a brCarbon gere dados mais confiáveis.

“A comunidade internacional reconhece o papel vital das florestas tropicais na luta contra as mudanças climáticas, e promove várias iniciativas e programas para protegê-las. Um exemplo são os projetos REDD+: ‘REDD’ significa "Redução de emissões por desmatamento e degradação florestal" em países em desenvolvimento.”

Os benefícios da abordagem inovadora da brCarbon alcançam mais do que os desenvolvedores de projetos e as partes interessadas. Os auditores independentes desempenham um papel crucial para garantir a credibilidade dos créditos de carbono. Com os dados abrangentes e precisos fornecidos pelo UAV-LiDAR, os auditores realizam processos de verificação mais completos e eficientes, reduzindo o risco de estimativas errôneas e favorecendo a credibilidade geral de projetos de crédito de carbono. Tivemos sucesso com o sensor remoto LiDAR (do inglês Light Detection and Ranging) embarcado em um drone (veículo aéreo não tripulado/VANT, ou UAV em inglês) em dois projetos de REDD+ na Amazônia brasileira. Assim, o UAV-LiDAR oferece recursos de aquisição de dados muito precisos e detalhados, facilitando a identificação de mudanças sutis na estrutura da floresta, indicativas de degradação, como a perda de biomassa.

Enquanto a comunidade global intensifica os esforços para mitigar os efeitos da mudança do clima, projetos REDD+ da brCarbon surgem com força vital para enfrentar desafios ambientais e, ao mesmo tempo, encontrar um equilíbrio com a expansão agrícola, como na região do MATOPIBA, que abrange partes dos estados brasileiros do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O MATOPIBA registra uma rápida expansão agrícola nos últimos anos, puxada pelo setor de soja. De acordo com o Relatório Anual de Desmatamento (RAD) do MapBiomas, com mais de 540 mil hectares de desmatamento, a região do MATOPIBA produziu 26% da área total desmatada no Brasil em 2022, um aumento de 37% comparado com a taxa de desmatamento do MATOPIBA em 2021. Um dos elementos-chave dos projetos de REDD+ da brCarbon é definir os créditos de carbono com base no desmatamento e na degradação florestal evitados, e a brCarbon conta com um grupo notável de parceiros comprometidos em fazer a diferença.

A HyperT Initiative surge como um esforço colaborativo inovador para remodelar o futuro da agricultura no Brasil, em um grande passo rumo à agricultura sustentável. Como um grupo, as empresas brCarbon, AgTrace, umgrauemeio e BrainAg combinam práticas sustentáveis e resultados confiáveis com base em big data, monitoramento de florestas e créditos de carbono para o mercado voluntário. Ao adotar o mercado voluntário de carbono, aproveitar o excedente de área de vegetação nativa e implementar esquemas de pagamento por serviços ambientais, a iniciativa promete beneficiar não apenas o meio ambiente, mas também os projetos agrupados de REDD+. A aplicação da tecnologia de ponta UAV-LiDAR no Projeto Soja Sustentável no Cerrado em fazendas de soja no MATOPIBA está gerando resultados notáveis. Esse avanço tecnológico inaugura uma nova era de precisão nas estimativas de carbono, com níveis de relacionamento mais de 90% superiores aos dos dados convencionais de campo e com incertezas globais reduzidas a menos de 2% em toda a área mapeada. Essa sinergia tem potencial para elevar nossos esforços de monitoramento ambiental a níveis inéditos, aumentando nossa capacidade de proteger ecossistemas e combater as mudanças climáticas.

Enquanto a região do MATOPIBA, com sua combinação única de agricultura e biodiversidade, for um ponto focal para a conservação ambiental e a agricultura sustentável, a integração dos sistemas UAV-LiDAR e de satélite passivo oferece uma visão do futuro. É um futuro em que a ciência e a tecnologia convergem dando as ferramentas e o conhecimento necessários para proteger nosso planeta. Podemos prever mais avanços nas tecnologias de sensoriamento remoto, maior colaboração entre os setores público e privado e uma abordagem mais ampla do monitoramento ambiental. É o início de uma nova era na proteção ambiental e no desenvolvimento sustentável para o mercado voluntário de carbono.

* Silvio Gomes, Renan Kamimura, Bruna Azevedo e Danilo Almeida são Especialistas em Mensuração Florestal da BrCarbon.

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